Falta profissionalização no setor do transporte rodoviário de mercadorias
Gustavo Paulo Duarte – Presidente da ANTRAM
Como caracteriza o atual estado do setor do transporte rodoviário de mercadorias em Portugal?
Há cerca de um ano iniciei o meu segundo mandato à frente da ANTRAM e durante este tempo já passei por algumas realidades e fases, como a crise e o período pós-crise, que me levam a concluir que o setor está a sofrer profundas mudanças. No setor do transporte rodoviário de mercadorias em Portugal falta profissionalização. Vive muito do “é assim que eu faço” e o “era assim que fazia”; isso vai ter que mudar porque as imposições que estão a aparecer, as exigências da regulação e a competitividade que existe entre as empresas nos países e na Europa, obrigam a um maior profissionalismo.
Hoje estamos a viver em estado de euforia…mas que não é no melhor sentido. Voltou a haver dinheiro na economia, o setor financeiro está novamente a cometer os mesmos erros crassos e a libertar dinheiro, volta a haver muito investimento em frotas, e para mim isto é um balão de euforia. Quando há linhas de financiamento tudo fica melhor, e muitas empresas vivem disso. No passado, muitas empresas compravam camiões a pronto porque geravam dinheiro suficiente para fazer esse investimento. Hoje, a maioria das empresas em Portugal tem uma estratégia económica baseada em financiamento. Ganhámos alguma aversão ao crédito, é verdade, mas passou-se a viver de “braço dado” com empresas financeiras. Porque, desde sempre, habituamo-nos a passar valor diretamente para os clientes. As empresas bateram no limite mínimo de rentabilidades, o que criou alguma barreira ao seu desenvolvimento, porque estas têm medo de crescer e de investir. As grandes empresas do setor continuam a viver com a banca, porque este setor tem a felicidade, ou infelicidade, de ter os produtos financeiros que a banca mais quer vender – porque o risco é menor – e que são o leasing, renting, factoring e confirming. Essa facilidade de aceder a estes produtos financeiros cria uma ilusão que me preocupa bastante.
A famosa “retoma” económica e financeira não se sente no setor?
Estamos a viver uma tempestade que ainda não sabemos bem como vai acabar. Por um lado, voltou a existir oferta no mercado. Há dois anos, por exemplo, não havia oferta de camiões e as empresas tiveram de reduzir as suas frotas por dificuldades financeiras. Por outro, temos uma falta de motoristas que é real e preocupante.
Se olharmos para os EBITDA da maior parte das empresas portuguesas, e não só deste setor, chegamos à conclusão de que são baixos. As empresas não estão a conseguir ter capacidade para gerar e reter valor para investimentos de capital próprio e para reinvestimentos. Há negócio mas não há valor e estamos a colocar-nos a jeito para crescer com financiamento bancário. Basta haver um “soluço” na economia e volta a haver excesso de oferta, os preços começam a baixar e as empresas voltam a entrar em modo de sobrevivência, como aconteceu num passado muito recente. Continuamos a ter um setor muito atomizado, em que muitas empresa têm vindo a desaparecer…
De que forma a crise económica, entre 2009 e 2013, afetou o setor? Desapareceram muitas empresas nesse período?
O ano de 2009 foi o melhor de sempre neste setor. Já 2010 foi o pior. Nesse ano, o mercado caiu tanto que foi a maior crise que se viveu no setor dos transportes nos últimos 20 anos. Obviamente que afetou brutalmente as empresas. Somos prestadores de serviços que transporta valor e se a economia está em crise, consequentemente, nós, que transportamos aquilo que a indústria produz e que a economia compra e vende, também estamos. Se o mercado não crescer ou existir uma inversão do crescimento, isso irá afetar-nos diretamente.
Esta direção tem mais dois anos de mandato. Quais os principais desafios que a ANTRAM irá enfrentar neste período?
Como já disse, a profissionalização do setor é algo que temos defendido inequivocamente e que poderá ajudar a resolver todos os outros desafios que teremos de enfrentar. Antes, bastava ser bom no negócio, hoje já não é assim…
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http://www.transportesemrevista.com/Default.aspx?tabid=210&language=pt-PT&id=57806